sábado, 21 de dezembro de 2013

Natal é oportunidade para exercitar e ensinar a solidariedade aos filhos

por Ana Cássia Maturano 
Dividir o que se tem, desapegar-se de suas posses ou simplesmente dar algo para alguém que realmente precisa, são frases bonitas e ações nem sempre tranquilas de serem praticadas.
Somos um pouco assim. Ao observarmos as crianças bem pequenas, é fácil perceber que compartilhar suas coisas é algo difícil. Quase que impossível. Às vezes, teimam em convidar um amiguinho para brincar, mas na hora H, bem… Nada de emprestar os brinquedos. Quanto mais novas são, mais difícil é. Alguns pais se sentem envergonhados e chegam a pensar que o filho não é uma boa pessoa.
Nem boa e nem ruim, apenas egocentrada. Ao nascer, temos a nítida percepção de sermos o mundo, para depois nos percebemos simplesmente o centro do mundo. Então, tudo o que temos, é como se fizesse parte da gente. Se dermos para o outro a sensação é de que nunca mais recuperaremos – ficaremos com algo faltando.
Foto: Christof Stache/AFP
Com o desenvolvimento emocional e intelectual sadios, as coisas vão mudando e temos a consciência de que podemos abrir mão de muitas coisas, que o outro existe e podemos compartilhar o que temos. Percebemos que apenas fazemos parte do mundo.
Alguns parecem nunca conseguir atingir este grau de desenvolvimento. Vemos crianças maiores, e até adultos, que ainda não podem e nem sabem dividir. Faltou-lhes, muitas vezes, oportunidades de praticar e exemplos a seguir.
Nesta época do ano, em que o sentimento de solidariedade está exacerbado, pode ser interessante iniciar o exercício de se desfazer daquilo que não mais é necessário. Que tal os próprios pais fazerem um balanço do que possuem, para identificarem o que não é mais necessário, mas ainda pode ser aproveitado? Não estou falando de coisas estragadas, essas devem ir para o lixo. Os programas televisivos de arrumação de casa geralmente propõem caixas para que seja feita a seguinte separação: o que vai ser doado, o que permanecerá e aquilo que irá para o lixo.
Realizar a atividade com entusiasmo pode ser um bom incentivador para que a criança faça o mesmo. Sugira isso com seus brinquedos. Afinal, ganhará muitos no natal e alguns nem são mais para a idade dela.
Lembrar que muitos não têm nada, e o que receberem fará diferença em suas vidas, deve ser dito aos pequenos. Pois é verdade. Conheço um homem que nunca se esqueceu de sua primeira bicicleta, que era de segunda mão.
Não basta separar, temos que planejar para quem doar. Algo que deve ser feito junto com a criança, para que ela tenha validada a ideia de que muitos não têm quase nada. Devemos começar ajudando aqueles que estão perto de nós. Um parente, um amigo ou um funcionário. Ou então, juntos procurarem uma instituição para levar as doações. Sempre com o cuidado de que estejam em bom estado.
Encontrada a pessoa ou instituição, a criança deve, ela própria, acompanhada dos pais, levar sua doação. É importante que veja o efeito de seu ato no semblante do outro. O que validará ainda mais sua ação: “Mamãe não inventou nada, é tudo verdade. Existem pessoas necessitadas e que ficaram felizes com o que ganharam.”
Se a criança resistir, não a obrigue. Não desista, porém. Dizer e mostrar que algumas pessoas têm dificuldades jamais imaginadas por ela, pode ser um choque de realidade. Mas não é dela que estamos falando: se alguns têm muito, inclusive coisas que nem precisam; outros quase nada têm.
Não espere que assim seu filho vá mudar completamente. A semente, no entanto, estará plantada. E ele também se tornará Papai Noel. Não aquele da barba branca, e sim aquele que propicia um sorriso no rosto de alguém.