quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Sensacionalismo na mídia: o preço da audiência no país do Ibope

A verdade é uma só. Todos precisam de informações. No mundo civilizado e globalizado, não temos como sobreviver sem saber o que está acontecendo a nossa volta. A globalização criou a comunidade mundial. Queremos saber mais do que simplesmente o que se passa em nosso bairro, em nossa cidade, em nosso estado, em nosso País. Queremos saber sobre os fatos importantes do mundo todo. E muitas vezes, nos pegamos querendo saber, inclusive, os supérfluos, os triviais fatos das vidas alheias; até mesmo os mais corriqueiros detalhes da vida de pessoas que nem conhecemos. É um vício, queremos saber em tempo real. Queremos saber primeiro. Queremos chegar em uma roda de amigos e contar algo que eles ainda não sabem.
Queremos, inclusive, saber o desenrolar de uma novela bem antes de ir ao ar. Queremos saber que existe um incêndio em uma casa em um bairro de uma cidade que nunca iremos conhecer; mas não basta apenas uma nota pobrezinha. O bom é uma entrevista com os donos da casa que perderam tudo. Ao menos uma lagrimazinha rolando. Melhor ainda quando têm imagens, vídeos do desespero da família durante o famigerado incidente. E compramos revistas, assinamos jornais, lemos blogs diversos na internet, lemos e-mails de amigos mais confiáveis, discutimos nas redes sociais, lemos as principais postagens, postamos as principais novidades midiáticas que garimpamos em algum cantinho de ciberespaço. Somos assim, queremos mesmo falar e saber sobre tudo. Nossa curiosidade é gigantesca. Essa mesma curiosidade que fez a sociedade evoluir. Será que isso é a evolução?
Foi justamente a curiosidade que fez a filosofia surgir. Dizem que foram os primeiros viajantes, os aventureiros, os vendedores ambulantes que criaram a possibilidade de desenvolver o pensamento humano e evoluir as sociedades. Eles levavam e traziam notícias de coisas extraordinárias acontecendo no mundo todo. Traziam para nos vender as novidades criadas por diversas ciências novas. Fazia nossa curiosidade atiçar. Queríamos sempre mais. Hoje, ainda é assim. Só que a quantidade de informação cresceu exponecialmente e inversamente à nossa capacidade de decodificar tudo que nos é apresentado de segundo a segundo.
A luta entre as mídias para ter credibilidade; a sede por ibopes, por audiência, por acessos, faz com a qualidade do que é produzido seja feito cada vez mais de maneira superficial. Não importa a relevância a informação. Não, o que é interessante é saber que um grande número de pessoas acompanharam a publicação. Pode ser um gato em uma árvore, desde que possa ser transmitido em tempo real o fascinante resgate promovido por um grupo de bombeiros; claro que pode ser também um psicopata louco que prendeu a namorada em um quarto. Melhor ainda se conseguir uma gravação de imagens exclusivas do meliante na janela com uma arma apontada na cabeça da garota.
O mais irônico é que esse tipo de notícia grosseira tem audiência. Fomos adestrados a darmos atenção desnecessária a esse tipo de divulgação que não traz nada de positivo para a vida em sociedade. Para piorar, damos audiência até para coisas que deveriam, no mínimo ser divulgado com muito cuidado. Por exemplo, não há nada de mais grosseiro que um documentário a respeito de um assassino que entra em uma escola atirando e matando crianças indefesas. E, divulgamos, e repetimos, damos cobertura total. Trazemos e ruminamos mil vezes a dor das famílias das vítimas. Com essa iniciativa, damos possibilidade para que novos psicopatas busquem seus minutos de fama nos noticiários. Uma pena a mídia não perceber que acima de ibopes está o equilíbrio dos valores milenares que deveríamos preservar na sociedade. Esquecemos que nosso papel, de jornalista, seria não sensacionalizar as informações irrelevantes. Uma nota sobre um crime tudo bem, mas uma semana, um mês; isso já é uma agressão. Um lamentável e triste engano cometido em nome da audiência. Realmente uma pena que a mídia não tenha consciência de seu papel para  a construção de uma sociedade mais consciente; bem informada, porém nunca deixando de lado as verdadeiras e necessárias informações em nome de trivialidades que apenas afastam o cidadão dos verdadeiros e reais problemas da sociedade que se diz moderna.

Cláudio Bertode

S.O.S Voz