domingo, 10 de novembro de 2013

A velhice e seus comprometimentos

                                      

Por Agnes Patias - psicóloga       

A velhice é biologicamente percebida como um processo degenerativo, porém inerente a nossa condição humana. Pode-se pensar que desde o momento de nosso nascimento, tornamo-nos envelhecentes.
Enquanto a Europa se organizou gradativamente para acolher o idoso, na sua grande maioria, com políticas sociais e condições de vida satisfatórias e adequadas, o Brasil visualizou esta ordem populacional, abruptamente, num crescimento acelerado e um baixo índice de natalidade, com expectativas de vida maiores, indicando, portanto, a longevidade humana.
Para comprovar esta afirmativa, o IBGE aponta atualmente cerca de 23.000.000 idosos no Brasil, com mais de 65 anos, em uma população de aproximadamente 194 milhões de habitantes. Ao mesmo tempo em que se comemora o aumento cronológico, há queixas pela previdência social do aumento de aposentadorias, a necessidade de obter maior atenção com estes através da oferta com qualidade nos serviços públicos e o cuidado permanente com as doenças consideradas crônicas e próprias deste período de vida.
Infelizmente, como consequência negativa desta realidade, a potencialidade humana não é vislumbrada no velho, ficando este a mercê de alguns estereótipos, como por exemplo, o de ser incapaz, dependente, alguém que representa altos custos para os órgãos públicos bem como para um número expressivo de famílias, principalmente, já que o salário miserável que recebem não cobre as suas necessidades básicas de sobrevivência. Esta invisibilidade social torna-o mais vulnerável e suscetível a violências cometidas principalmente por cuidadores, que se utilizam desta condição, para, muitas vezes, cometerem determinadas ações investidas da desintegração humana, violando todos os direitos assegurados.   
Este fenômeno social, associado à finitude existencial, manifesta-se sob várias formas de violência, tais como: psicológica, econômica, sexual, medicamentosa, física, bem como atos de abandono e negligência que impedem o idoso de viver de modo saudável.
O Estatuto do Idoso é ainda uma das formas de garantir o respeito e a dignidade aos maiores de 60 anos. Precisamos colocá-lo em prática nas ações diárias. Também se faz necessário redefinir algumas posições, realizando diagnósticos com planejamentos viáveis, tendo a participação ativa do idoso, através de definições previstas em conferências, fóruns, seminários e audiências públicas.
Enquanto profissionais e membros de uma sociedade, precisamos estar atentos a estas questões, considerando as contribuições destes através de suas experiências, como sujeitos ativos, valorizando-os numa lógica inversa, de que a idade considerada como sendo da juventude é um valor cultural único a ser seguido.
Já aos órgãos governamentais cabe o desenvolvimento de políticas públicas sociais adequadas e aliadas entre si, que permitam a superação do fenômeno violência, construído por causas estruturais, mas passível de mudanças. O comprometimento com a vida passa por um tratamento digno, com a possibilidade de independência, mesmo que limitada, assim como o apoio incondicional da família e o acesso à vida, direito de todos os seres humanos, sem exceções.