terça-feira, 17 de setembro de 2013

De Caim e Abel a Félix e Paloma: a rivalidade entre irmãos

por Ana Cássia Maturano

Quem tem mais de um filho sabe como é difícil agradar a todos. Estão sempre reclamando que o irmão tem vantagens, é o preferido dos pais etc. A rivalidade fraterna é bíblica, remonta a Caim e Abel, primeira dupla de irmãos de que se tem notícia.
Segundo a Bíblia, eles eram filhos de Adão e Eva – Caim era lavrador e Abel, pastor. Ambos faziam ofertas a Deus, que sempre mostrava maior apreço por Abel (segundo consta, dava-lhe suas melhores ovelhas, diferente do irmão, a quem lhe oferecia as sobras). Enciumado por não ser o preferido de Deus, Caim matou o irmão.
Este tema tem sido revivido na novela Amor à Vida com os personagens de Paloma e Félix. Extremamente invejoso da irmã por ser a preferida do pai, o rapaz não economiza em suas maldades. Aproveita as oportunidades que surgem para prejudicá-la, sempre tentando garantir ganhos materiais, principalmente a herança (talvez imagina que assim terá o pai).
Nem sempre conseguimos lidar com tranquilidade com essa questão. Isso é vivido na maioria dos lares. Quando nascemos, nossos primeiros objetos de amor são os pais, o irmão surge como um intruso que veio dividir (ou até roubar) essas pessoas.
Os progenitores se esforçam para garantir que nenhum seja lesado nesta história e, para tanto, procuram sempre oferecer-lhes tudo igual. A impressão é de que nunca conseguem. Outro dia, uma adolescente me contou que na sua casa é assim: o que a irmã ganha de outra pessoa, o pai dá igual para ela e vice-versa – tudo é sempre igual.
Muitos pais caem nessa e acham que proporcionar as mesmas coisas materiais amenizará os ânimos. Assim como o Félix, que enxerga em coisas materiais o reconhecimento que não tem de seu pai.
Às vezes, algo nos escapa a compreensão: os filhos querem ser únicos e não ser ou ter tudo igual ao irmão. Neste sentido, algumas coisas podem ser feitas para amenizar o conflito entre eles.
Um exemplo é poder dedicar um tempo exclusivo só para um deles, sem lembrar que o outro existe. Fazer coisas de seu interesse, num momento em que ele seja o foco. Numa outra oportunidade, fazer com o outro também.
Outro aspecto que se costuma negar é que pode haver a identificação maior de um dos pais com um ou outro filho – naturalmente ele lhe dá mais atenção, mesmo amando todos com a mesma intensidade. Algumas atitudes denunciam isso, atiçando a rivalidade. Vale a pena prestar atenção nas situações em que fica claro o ciúme para poder perceber o que o desencadeou. Assim, será possível aos pais agirem de outra maneira.
Ver os filhos brigando é tão aflitivo para alguns pais que eles acabam por determinar o que eles sentem e dizem coisas do tipo: “Você ama seu irmão, diga isso para ele… Pronto, agora se abracem e tudo ficará bem.” Ora, nada ficará muito bem. O que ele sente é que é menosprezado, que não é compreendido. Da próxima vez, bater mais forte no irmão poderá deixar seus sentimentos mais claros.
Abrir uma possibilidade para que sentimentos negativos sejam ditos é uma ideia interessante. Quando as coisas saem por palavras, não há necessidade de serem expressas pela ação.
De todo modo, isso é algo comum e até certo ponto saudável. O que se vive dentro de casa, entre pais e irmãos, é um aprendizado para a vida. A rivalidade, quando ocorre dentro de uma base amorosa, garante que a relação não seja destruída (brigam, brigam, mas estão sempre juntos), o que dá certo alívio. Possibilita que se defendam em outros contextos, sem que se sintam culpados.
Como bem disse uma mãe de três meninos ao comentar suas brigas: “Sinto-me aliviada quando brigam, pois estão prontos para se defenderem na vida.”