sábado, 28 de setembro de 2013

Que direito tem alguém de quebrar a carteira da escola?


por Ana Cássia Maturano  - Psicóloga e psicopedagoga 



A adolescência é o tempo da contestação dos valores vigentes. Espera-se certa rebeldia para esta época da vida, por vezes agressiva. No entanto, o que uma reportagem do Bom Dia Brasil mostrou na sexta-feira, não tem nada a ver com isso.
Flagrados pelas inúmeras câmeras de celulares espalhados por aí, alguns estudantes mostraram uma selvageria e falta de respeito pouco comuns. Um deles, numa escola pública em Recanto das Emas (DF), arrasta o pedaço de uma carteira e entorta sua parte de metal com as mãos. Isso tudo, durante uma aula e com a presença do professor.
Em Passo Fundo (RS), um grupo de alunos atira cadeiras para o alto. Parecia o quebra-quebra das recentes manifestações populares. A punição? Advertências, suspensões e conversas com os responsáveis.
No caso do garoto de Recanto das Emas, seus pais mostraram-se apenas surpresos diante do acontecido. Nada mais. Por menos, muitos ficariam estarrecidos com o filho. O grupo do RS se defendeu dizendo que tudo começou como uma brincadeira e… deu no que deu. Não é de hoje que os professores têm reclamado da perda de autoridade frente aos alunos. Costumam receber pais irados ao repreenderem de alguma forma seus alunos. Inclusive quando ainda pequenos.
Com isso, as crianças acabam sendo criadas desvalorizando esta importante figura de autoridade, representante de um contexto social maior, para além dos muros de suas casas. Indo mais fundo, constata-se que nem em seus lares existe autoridade.
Percebe-se que essas crianças, além de estarem se desenvolvendo sem os limites necessários, estão aprendendo a exigirem apenas seus direitos, sem se dar conta de suas obrigações. Ora, que direito tem alguém de quebrar a carteira da escola, que inclusive é para seu uso? E onde está escrito que professor é para ser desrespeitado?
Em nenhum lugar. O que nos diz até onde podemos ir são as regras bem estabelecidas: primeiro, aquelas que nós pais passamos e exigimos; depois, aquelas estabelecidas e cobradas pelo sistema social para a boa convivência de todos. E assim, vamos introjetando as leis e nos introduzindo na esfera social e cultural.
Se nossas ações nunca têm consequência, fazemos o que queremos em casa ou na escola, e não há ônus algum, faz-se o que quer. Inclusive, criamos a falsa ideia de que fazemos o que queremos.
Qual a consequência dos atos desses jovens? No máximo alguns dias de descanso em casa. Tudo o que eles querem. Com mamãe e papai falando mal do professor, que persegue seu filhinho.
Em verdade, o que é destruído deve ser reposto. Quando uma criança quebra o brinquedo de um coleguinha, deve ser orientado a devolver um novo. Assim também quando quebra uma carteira na escola. De preferência, com sua mesada.
Os limites e a autoridade são muito importantes para qualquer um. Ajudam o indivíduo a se situar no mundo e a sentir que tem alguém que está ali para ajudá-lo, inclusive na contenção de seu impulso destrutivo, que lhe causa muita angústia. Com atitudes assim, muito provavelmente estes jovens estão reivindicando do ambiente esses parâmetros que lhes são negados.