A morte, pensada
como perda, atravessa a trajetória da história humana, modificando-se em
diferentes épocas através de crenças, culturas, tradições. Buscou-se
historicamente compreendê-la pela arte, ciências humanas, religião, na
tentativa quem sabe, de minimizar a dor
provocada, de modo que se tornasse passível de diferentes representações.
O referido processo de finitude existencial considerado como natural e inevitável,embora
ultrapasse a nossa condição humana, põe-nos a transitar por fluxos de
possibilidades tais como:
Pode-se pensar que a
criação de vínculos, necessária a qualquer ser humano, dá-se desde o momento da
ligação mãe-bebê, através do cordão umbilical, estendendo-se no decorrer da
vida, porém as perdas começam a ocorrer a partir deste corte, no período do
nascimento, rompendo assim com a vida intra uterina.
Durante toda a nossa existência deparamo-nos com as perdas
objetais conscientes, levando-nos a buscar novas formas de produções de vida.
Em relação à elaboração da morte, há neste ínterim uma fase
de luto, produzido por uma mistura de sentimentos e comportamentos que provocam
diversas possibilidades de enfrentamento ou não, uns mais rápidos, outros mais
complexos e demorados. Desespero, raiva, culpa, impotência, negação, podem
provocar de início um desequilíbrio e uma desorganização devido ao choque da
perda,dando lugar mais adiante a um estágio de compreensão,percepção,
elaboração e ressignificação, com a devida redefinição de papeis,novas
habilidades, adaptação às mudanças e
reinvestimento libidinal.
As fases do luto,considerada segundo Bowlby, como um conjunto
de reações frente à perda, passariam por implicações tais como: choque,
inquietação, desespero, desorganização e por último a retomada de atividades à
vida.
Embora com todas as dificuldades reais de assimilação, faz-se
inevitável sofrer, lidar e encarar as dores provocadas pelas perdas, por mais
temível e desafiador que seja.
Deparar-se com a morte encarada como perda extremamente
ameaçadora e irredutível, põe-nos na condição de sujeitos faltantes, falhos,
imperfeitos, impotentes, talvez daí a sensação maior de insuportabilidade
devido à condição narcísica e a sensação ilusória de onipotência.
Adaptar-se as perdas
provocadas dependerá da individualidade de cada sujeito, considerando-se a sua
subjetividade bem como as experiências trazidas dentro das suas produções
éticas e morais.
Portanto, este olhar, embora reduzido, abre brechas para que
pensemos o fenômeno morte, enquanto perda, como algo que transita por
entre...nas entrelinhas da vida que produzimos a cada instante, como parte
dela,embora sentida como algo que desacomoda,desconcerta,desapega,desvia,
desmorona e se esvai. Necessária? Ambígua? Inquietante? Talvez...O importante é
que provoque reflexões acerca do nosso existir e do sentido que damos a este
processo.
Psicóloga Agnes de Fatima da Silva Patias
CRP
07/ 17533