Por Agnes Patias - Psicóloga
Nos últimos tempos em que venho atuando como profissional na
área da psicologia, em órgãos públicos, com o intuito de produzir saúde mental
nas veredas por onde transito, tenho-me impressionado com a significativa
demanda de patologizações empregadas para inscrever comportamentos considerados
fora do eixo do equilíbrio humano das emoções.
A partir desta concepção observada, percebo que a
representação da dor precisa ser nomeada para que o ser humano possa ser
medicalizado e legitimado por uma certeza absoluta, obedecendo a uma ordem
generalizada de posturas lineares.
Numa espécie de empoderamento da vida singular de cada um,
aplica-se, de modo extremamente resistente, uma insistência em curar, sem a
devida consideração das peculiaridades a
respeito de cada sujeito.
As indústrias farmacêuticas, como numa espécie de máquinas
mortíferas, apropriam-se destes diagnósticos de transtornos para obterem lucros
vultosos com as vendas de medicamentos, na promessa de produzirem sensações
ilusórias e momentâneas de prazer e bem estar.
Com esta ideologia imposta criada a partir de inúmeras
patologias, pode-se imaginar a produção de uma sociedade engessada pelo
aprisionamento de rótulos, que mantém o enquadramento de crianças, jovens, adultos
e idosos considerados “problemas” e aumenta o perigo das generalizações através
de manuais e códigos de doenças.
Para pensarmos uma sociedade mentalmente saudável,
precisaríamos considerar a liberdade individual de cada um e não vilipendiá-la através
de forças extremas opositoras que tendem ao aniquilamento da condição humana.
Precisamos acordar para perceber o que há por detrás destas
presas fáceis de controle dos humanos considerados diferentes e indesejáveis,
além de repensar estas práticas que provocam, em muitos casos, malefícios
irreversíveis.
A humanidade adoeceu pela
submissão e dependência ou resolveu, intencionalmente, generalizar
comportamentos, tornando seus próprios corpos dóceis e passíveis de controle
total?
Pensemos nisso!