sábado, 24 de agosto de 2013

Perigos à Vista


   Por Agnes Patias - Psicóloga

Nos últimos tempos em que venho atuando como profissional na área da psicologia, em órgãos públicos, com o intuito de produzir saúde mental nas veredas por onde transito, tenho-me impressionado com a significativa demanda de patologizações empregadas para inscrever comportamentos considerados fora do eixo do equilíbrio humano das emoções.
A partir desta concepção observada, percebo que a representação da dor precisa ser nomeada para que o ser humano possa ser medicalizado e legitimado por uma certeza absoluta, obedecendo a uma ordem generalizada de posturas lineares.
Numa espécie de empoderamento da vida singular de cada um, aplica-se, de modo extremamente resistente, uma insistência em curar, sem a devida consideração das  peculiaridades a respeito de cada sujeito.
As indústrias farmacêuticas, como numa espécie de máquinas mortíferas, apropriam-se destes diagnósticos de transtornos para obterem lucros vultosos com as vendas de medicamentos, na promessa de produzirem sensações ilusórias e momentâneas de prazer e bem estar.
Com esta ideologia imposta criada a partir de inúmeras patologias, pode-se imaginar a produção de uma sociedade engessada pelo aprisionamento de rótulos, que mantém o enquadramento de crianças, jovens, adultos e idosos considerados “problemas” e aumenta o perigo das generalizações através de manuais e códigos de doenças.
Para pensarmos uma sociedade mentalmente saudável, precisaríamos considerar a liberdade individual de cada um e não vilipendiá-la através de forças extremas opositoras que tendem ao aniquilamento da condição humana.
Precisamos acordar para perceber o que há por detrás destas presas fáceis de controle dos humanos considerados diferentes e indesejáveis, além de repensar estas práticas que provocam, em muitos casos, malefícios irreversíveis.
 A humanidade adoeceu pela submissão e dependência ou resolveu, intencionalmente, generalizar comportamentos, tornando seus próprios corpos dóceis e passíveis de controle total?


Pensemos nisso!